No dia 31 de Março, véspera do aniversário de 55 anos do Golpe Militar que instaurou uma Ditadura que durou 20 anos no Brasil, o governo federal divulgou um vídeo elogiando o golpe. Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o vídeo foi divulgado através da conta de Whatsapp utilizada pela Secretaria de Comunicação da Presidência e traz como conteúdo a mesma crença que Bolsonaro e alguns de seus ministros já propagaram acerca do ocorrido em 64.
Os historiadores do país, no entanto, contestam veementemente a versão de que o Golpe teria como motivação a “ameaça comunista”, demonstrando que, na verdade, a luta armada só foi tentada no Brasil após a implantação do regime de exceção e da violência e opressão que todo aquele que discordava da ditadura sofreu.
A exemplo de Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, o apresentador repete várias vezes: “o Exército nos salvou, o Exército nos salvou”, como se ao repetir uma mentira muitas vezes, ela pudesse se tornar verdade. Resta a pergunta: o Exército, em 64, nos salvou de quê? Não teria sido ele, o Exército, que já em 1961 pretendia impedir que o vice-presidente João Goulart assumisse a presidência após a renúncia de Jânio Quadros? Não teria sido ele, o Exército, que alegara que Jango era um agente da subversão do país e perigoso à segurança nacional por ser identificado com o comunismo internacional? Logo ele, Jango, um burguês fazendeiro e liberal, embora preocupado com direitos humanos e com a miséria generalizada no país?
Pois foi o golpe frustrado de 61 e com a ajuda dos EUA e seu macarthismo, que os militares inventaram uma ameaça comunista que justificasse o Golpe, a tomada do poder e a submissão total da população a um regime autoritário e ao capital internacional. Não esqueçamos que 61 marca o rompimento das relações entre os EUA e Cuba de Fidel Castro, logo após este declarar alinhamento ideológico ao bloco soviético.
O vídeo, porém, acerta em uma coisa. Era sim, conforme afirma o narrador, um tempo de medos e ameaças. E ele foi implantado pelo Exército Brasileiro através dos militares e civis que protagonizaram e permitiram que nossa liberdade fosse sequestrada com violência e opressão.
Hoje, sem golpe, democraticamente, estamos entregues a um homem truculento, preconceituoso e incompetente, que homenageia torturadores, ditadores e pedófilos, enquanto procura aprovar leis que reduzem os direitos da população a favor do privilégio dos bancos, militares e marajás da política. A nosso ver. esse presidente comete crime de responsabilidade e desdenha o regime que o elegeu e a Constituição que ele jurou cumprir ao incentivar comemorações acerca de um regime de exceção que causou tanta dor a tanta gente.
Outro acerto do vídeo é a frase: “Não dá para mudar a história”. Tentar mudar a história é algo que vem sendo feito por Think Tanks como Brasil Paralelo, MBL, e figuras como Olavo de Carvalho e seus asseclas. Mas nada do que falarem irá eliminar o fato de que não existia organização armada no Brasil, seja de origem socialista ou comunista, antes do golpe. Até Marighela, tão falado ultimamente, antes do golpe era um mero parlamentar dentro do congresso nacional. O historiador Milton Pinheiro da UNEB, autor do livro “O que resta da transição” faz um estudo sobre os dirigentes do PCB no exílio, no eixo Paris-Moscow-Budapeste-Praga e afirma categórico que o Partido Comunista do Brasil era aliancista e nunca pregou a luta armada.
Dilma Roussef, ex-presidenta deposta em 2016, afirmou em passado recente: “a mentira na democracia é um crime. Em uma ditadura, é obrigação.” O Governo e seus aliados ainda estão numa ditadura mentalmente: mentem, causam terror, medo e propagam ameaças infundadas.
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