Porque, simplesmente odeio, rejeito, desprezo e luto contra todo tipo de poder. O poder é a relação (ou mesmo o ato) que interdita a afirmação da potência do outro. Todo poder se exerce na despotencialização, na coação e no controle dos corpos. Todo poder se dá no franco desvio nos caminhos da potência, pois ele quer se apropriar do outro, quer seu domínio e submissão.
Não existe exercício de poder que não interdite a capacidade do outro em agir por si mesmo. Por isso ele sempre é um ato de violência, e nem sempre apenas simbólica. É violento porque ele se dá e se alimenta da despotência, mesmo no caso em que seu exercício seja consensual. O aparente conforto gerado pela irresponsabilidade em ser dominado e expropriado da capacidade de agir, tem o alto custo de se ter roubada a potência para quem o exerce. Destarte, o poder revela a impotência de quem o deseja e seu ódio pela potência do outro.
Como disse Deleuze, todo poder é triste. Ele expropria a potência do outro porque é, em si, pura impotência. Quanto mais fraco e degenerado é, mais deseja se realizar na diminuição e submissão do outro, do qual se torna dependente como um parasita. Há na necessidade de domínio uma pré-consciência da impotência e o terror em ser dominado.
Elemento de formação propositiva, de origem grega, “arquia” exprime a ideia de poder. Ao prefixar-se com “a”, significa a negação do poder: ANARQUIA. Negamos o poder em todos esses aspectos em favor da potência mútua. Contrária ao poder (que é impotente), a potência é fluxo que se basta a si própria. Em relação, não rebaixa o outro, mais o potencializa porque quer crescer e superar-se. Potência é liberdade. Como não precisa diminuir ninguém para dominar, ela amplia a liberdade de todos. Enquanto o poder cerceia, a potencia transborda.
Enquanto o desejo que nasce do poder tem por critério o domínio, o desejo de potência tem a si próprio como critério e se amplia para além de si. O medo da liberdade e da potência é que faz nascer a necessidade de poder. Mas é o impotente quem mata, usurpa, abusa, expropria em nome do poder, enquanto a potência doa, multiplica, afirma a vida e a ampara. O poder é mesquinho. A potência generosa. O poder que se exerce quer controlar, cercear, podar, diminuir. A potência que se exerce quer presença, acontecimento, experiências e experimentações.
O circuito de afetos que orbita o poder é triste, melancólico, maníaco, mesquinho e violento. Os afetos envolvidos na potência são intensos, felizes, generosos e criativos. Poder é contenção. Potência é transbordamento. O poder requer função, tarefas e horários. Potência requer liberdade, criação e realização.
Anarquize-se….
Bons motivos…